textimagens - rosaura soligo

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

cidade tragada

olhos noturnos miram o nem ver, guiam os passos mal desenhados por caminhos escuros, entre becos e vielas brilha o vestido vermelho da prostituta, o rosto insone, boca pintada de cor igual, olhar embriagado do último boêmio da cidade mergulhada na penumbra da madrugada fria e gelada, garoa cinza alarga a solidão, selva de concreto imersa em caos.
olha de viés procura disco voador no céu escondido do inverno, saci fantasiado de gente, girando redemoinho de vento de chuva, infinito iluminado de luz do sol que insiste em clarear o rosto sujo do mendigo que ninguém vê, amanhecido no passeio de passos apressados, invisível assombração dobrando a encruzilhada, ventando a saia rodada da mulher do guarda.
o boteco irradia luz, Fagner na vitrola, reluz, sobressai, cativa o passante.
adentra o salão, achega ao balcão quase negro, monótono tristonho, recanto sem luz, procura na prateleira a garrafa de invisível, a dose de disco voador, o trago ensacizado, o brinde assombrado, cachaça balança saia, beijo na boca bêbada vermelha da puta gostosa do centro da cidade. [leonardo soares]                                                     

leonardo soares

2 comentários:

  1. Ai Leonardo, casa comigo. Texto sensorial.

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  2. que injustiça!
    passados nem três minutos da publicação deste post, o escritor ocasional já era pedido em casamento...
    vejam: há mais de um ano, a duras penas, fico escolhendo palavras desacostumadas para produzir algum efeito chiaroscuro nos correligionários e... nada! ninguém nunca pediu pra casar comigo.
    acho que vou tirar umas fotos por aí. rs
    Rosaura

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