textimagens - rosaura soligo

sábado, 9 de junho de 2012

na casa da Maria Eugênia




Dona Amélia, minha bisavó era a Nona. Mulher simples, analfabeta, fazia conta com feijão quando o Nono deixava o armazém sob seus cuidados, tirava mel dos favos, plantava horta com erva doce e colorau, capinava o quintal, apanhava frutas e fazia tanta coisa que ninguém nem lembra tudo. E falava pouco, sempre com estranhas palavras híbridas, português com italiano.
Na casa da Nona, toda tarde tinha sopa de feijão passado na peneira, batata e espaguete de furinho – aquele de pacote azul escuro que vendia antigamente. Depois da janta a família toda ia lá tomar uma sopinha, como que de sobremesa.


Bem... acreditem vocês ou não, lá no vilarejo tinha uma parteira, Maria Eugênia, que ocasionalmente recebia moças vindas de outras paragens para alegrar os homens locais (coisa que segundo dizem ela fazia tão bem quanto os nascimentos). Era mais ou menos uma zona, digamos assim.


Pois não é que as fofoqueiras de plantão disseram à minha Nona que o marido dela andava se alegrando por lá?


Amélia, mulher de verdade desde os tempos lá do norte da Itália, nem por um segundo vacilou: se enfiou inteira na roupa do Nono, chapéu enterrado, e partiu rua adiante, a passos firmes, para conferir com os próprios olhos.

bem pior

leonardo soares












pior dentro
do que fora