janelas da vida como ela é

leonardo soares

gostava de ver as janelas iluminadas, a cor das cortinas, o brilho dos lustres, a luz trêmula dos televisores... no verão, chegavam aos meus ouvidos o tilintar das mesas que estavam sendo postas e o barulho das cozinhas, alguns gritos, chamados, e mesmo pequenas brigas, música e vozes do rádio. eu ficava nostálgico daquelas existências, que imaginava, ao mesmo tempo, parecidas com a minha e diferentes. sentia pena por todas as vidas que eu não viveria e uma certa alegria, porque pensava que, de todas, no fundo, eu poderia reconhecer o barulho e o cheiro que me eram estranhamente familiares.

[Contardo Calligaris]