apu gomes |
Pobres ruas, sempre no seu dorso
o peso
dos corpos, das rodas,
dos líquidos, chorumes
risadas, queixumes.
Dos mortos ainda vivos, dos vivos
já quase mortos
Os rumos, as rotas, os passos.
Humanos, desumanizados
Desgraçados, abastados
Doutores, ambulantes
Surfistas errantes.
Pobres ruas, braços das paradas dos
ônibus
Paradas que, sempre em movimento,
mastigam tormentos, vomitam histórias
ou assuntos repisados.
Pobres ruas condenadas a viver
fora do abrigo
Dando abrigo ao inimigo, à poeira
e ao veneno excretado pelas máquinas
que ferozes as devoram mesmo sem as
engolir.
Pobres ruas mães insones, não
conseguem repousar
E ficam sempre acordadas, não
porque os filhos demorem, mas porque os vê chegar.
Prostitutas, viciados, franciscanos,
exilados.
Bandidos, ladrões, alijados de
afeto e de calor,
de esperança e de respeito, e não
têm outro jeito que não, o de na rua amar,
a tudo que é desprezado, que é
torto que é jogado, no solo, na boca da rua,
que é veia, que é rio, que é viva
e alimenta,
o pesadelo ou o sonho de viver e
de lutar.
Não importa o que escoem, há
sempre um preço a pagar.
Pobres ruas projetadas pra viverem
abertas aos céus
Que se fazem passarelas das
estrelas e do brilho que a lua faz deitar
em seus cantos, becos, prantos
que nelas vem se abrigar.
Pobres ruas, colo da chuva
banhado pela enxurrada,
no final da madrugada sonham de
lado virar
e se entregar ao repouso, sem
gritos, sem latejar.
Mas vem o sol lhes bater, e recomeça
a história que elas têm de escrever
História de muitas vozes
Que não podemos ouvir
Que não conseguimos ler.
[Vilma de Lourdes Campos]
apu gomes |
Rosaura! O texto encontrou abrigo perfeito nestas imagens. Muito fortes e emblemáticas!
ResponderExcluirSensacional!!! Muito bom!!
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