Dona Amélia, minha bisavó era a Nona. Mulher simples, analfabeta, fazia
conta com feijão quando o Nono deixava o armazém sob seus cuidados, tirava mel
dos favos, plantava horta com erva doce e colorau, capinava o quintal, apanhava
frutas e fazia tanta coisa que ninguém nem lembra tudo. E falava pouco, sempre
com estranhas palavras híbridas, português com italiano.
Na casa da Nona, toda tarde tinha sopa de
feijão passado na peneira, batata e espaguete de furinho – aquele de pacote
azul escuro que vendia antigamente. Depois da janta a família toda ia lá tomar
uma sopinha, como que de sobremesa.
Bem... acreditem vocês ou não, lá no vilarejo tinha uma
parteira, Maria Eugênia, que ocasionalmente recebia moças vindas de outras
paragens para alegrar os homens locais (coisa que segundo dizem ela fazia tão
bem quanto os nascimentos). Era mais ou menos uma zona, digamos assim.
Pois não é que as fofoqueiras de plantão disseram à minha
Nona que o marido dela andava se alegrando por lá?
Amélia, mulher de verdade desde os tempos lá do norte da
Itália, nem por um segundo vacilou: se enfiou inteira na roupa do Nono, chapéu
enterrado, e partiu rua adiante, a passos firmes, para conferir com os próprios
olhos.
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