rosaura soligo |
Meu pai olhou pela porta de vidro, com o vento uivando lá fora, e a
conversa foi assim:
"Quando faz frio que nem hoje, lembro que nesta época do ano eu
tinha muita pena das vacas lá da propriedade, todas magras e com muito frio,
sem saber onde ficar."
"É mesmo, pai?!"
"É. Eu recolhia todas no curral lá pela duas da tarde e elas
achavam era muito bom!"
"Imagino que sim mesmo..."
"E sabe o que é engraçado? Cada vaca tem seu próprio lugar no
curral: cada uma escolhe e é dela! Tinha a Fortuna, por exemplo, que ficava no
canto aqui de baixo. Tinha a Brasinha, que ficava no outro lá de cima. E a
Barrosa no outro. Coisa gozada isso..."
(minha mãe:) "E nenhuma queria o lugar da outra?".
"Claro que não. Pois se cada uma tinha o seu... E também tinha uma
coisa: na hora de mamar, era só chamar o nome da vaca que o bezerro vinha – não
só a vaca sabia que aquele era o seu nome, mas também o bezerro sabia que era o
nome da sua mãe".
"Bonito isso, pai, bem bonito..."
rosaura soligo